A alma da comunidade

Spectrografia

João Francisco Vilhena e Mário Câmara Caeiro

Retratos | Fotografia | Poesia | Versos | Comunidade | Identidade | Autoestima | Almas

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Retratos fotográficos, legendados com veia poética
Retratos | Fotografia | Poesia | Versos | Comunidade | Identidade | Autoestima | Almas

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Retratos fotográficos, legendados com veia poética
Spectrografia consiste na realização de retratos one to one. O objetivo último será o de vir a fotografar todos os habitantes do Torrão, na simplicidade de um retrato de família. Este foi um princípio para o critério. Entre abstração e desígnio, missão e fantasia, decorre o processo. A fotografia de João Francisco Vilhena evoca — e convoca — o caráter da pessoa. E a cada imagem Mário Câmara Caeiro junta uma singela legenda, verso solto de um poema infindo de que se possa imaginar o antes e o depois.

Cada rosto é único, no infindo espectro das almas. Cada corpo uma árvore. Cada ser pode ser pontualmente resumido num verso onde cabe uma vida. Cada expressão facial é como uma nuvem que passa. Spectrografia retrata literalmente as gentes da vila e da freguesia. Regista, a cores, a dimensão humana e atual da vida social, na busca de tipos concretos capazes de representar uma sensibilidade e o espírito das gentes do lugar. Imagens a cores, feitas em diálogo íntimo com o fotógrafo, permitem que o Torrão do presente – que é feito no dia a dia pelos seus habitantes – se veja como que ao espelho através dos rostos de figurantes e protagonistas de várias gerações. As imagens são diretas, cruas, e ao mesmo tempo mágicas, limpas. Sua função é contar a sua parte da história.

Em Spectrografia cada fotografia revela uma profissão, uma história de vida, uma memória. Uma bio-grafia (escrita da vida). O que é sugerido acaba por ser um mapa social do Torrão. Na primeira abordagem (o primeiro dia do projeto) foi importante atentar à diversidade das pessoas convidadas a sentar-se no cenário – quer em termos de idade, quer em termos de elemento identificativo da vida da pessoa. Com a colaboração de Mário Fagulha, reconhecido por sua paixão pela história da vila e colecionador de objetos inusitados (o Wunderkammer local), as imagens integraram objetos que fizessem uma ligação à profissão, ao passatempo, ao animal de estimação – àquilo a que a pessoa retratada, após breve troca de impressões, aceitou ser ligada. Às fotografias são acrescentados textos muito curtos, altamente condensados ao nível dos conteúdos, construindo uma identidade literária (narrativa) da vila através de um discurso acessível. Para o impacto na vida urbana, crucial é o facto de as fotografias serem expostas em espaços e instituições aderentes da mais diversa índole – tanto quanto possível de forma permanente – mas também em inusitados espaços quotidianos (a farmácia, a fábrica, o atelier, a oficina, a livraria, a loja centenária, o café…)

A primeira sessão de Spectrografia decorreu no dia 13 de maio de 2023, no AQUI, à Praça Bernardim Ribeiro, no âmbito do Fim de Tarde [link pág.] no Torrão. Nela participaram cerca de 50 moradores. A primeira accrochage decorre na icónica Farmácia Faria, cujos móveis albergam décadas de cuidados. Lá estará a Frigénia, reconhecida autora de lengalengas e estrela do trailer deste projeto. Em sucessivos encontros, o fotógrafo – como noutros tempos, quando fotografar alguém era um acontecimento – documenta esse momento. As imagens, tiradas em vários espaços selecionados em colaboração com a comunidade pelo seu valor simbólico, discretamente encenadas, seguem depois o seu curso: uma vez impressas, aparecem nos espaços do dia-a-dia com a naturalidade de um ‘Bom dia!’ em molduras de todos os tamanhos, em cartazes, nas redes (ditas) sociais, sempre acompanhadas pelas respectivas legendas, quais biografias instantâneas.

O processo dará um dia origem a um livro. Imagens selecionadas integrarão uma exposição permanente. Este projeto funciona como um tributo do CONVENTO DA TERRA à comunidade viva do Torrão.

FEVEREIRO DE 2025

Ao ritmo dos momentos de encontro com o fotógrafo, desde maio de 2023, dezenas de Torranenses assumiram-se personagens. A série de retratos destes amigos é pretexto para celebrar-se a Pessoa.

Quais fantasmas (o que é natural em qualquer fotografia), estes rostos são, paradoxalmente,  o testemunho de vivaz co-presença. E de empatia dos participantes para com o CONVENTO DA TERRA. Ao longo do processo de criação, o fotógrafo acumulou retratos do que são ícones vivos do lugar. Nos curtos textos que legendam as imagens, as palavras brincam com o evidente. Mas também ecoam a identidade de um sítio – “frequês”, “montado”, “papoila”… – e não menos o universal ou intemporal.

Certos rostos da coleção são presença quotidiana na Vila. Outros, não propriamente. A verdade é que é tudo gente. A pessoa. Fotografada por estes dias, pedras e flores na mão, assumindo-se representação do Humano e do Social. Nas conversas e comentários que estas personagens assim fotografadas geraram, sobra acima de tudo algo mágico: a profunda simpatia que possamos ter uns pelos outros.

Os textos, numa espécie de adaptação popular do haiku oriental são como que poemas breves que no rigor da Língua definem percepções e ideias. Chamámos-lhe precisamente aicus, designação que é mais que piscar de olho brejeiro; pois que no ‘ai’ está no final de contas uma interjeição que veicula uma ideia: é bonito surpreendermo-nos quando ligamos o óbvio e o sugerido, o concreto e o surreal, o trocadilho e a citação, a rima e o ritmos poético-musical próximo da poesia popular.

No exercício do interstício entre palavra e imagem – Literatura e Fotografia – tratou-se de ensaiar um espectrograma de almas, o retrato coletivo, multicolor, de uma comunidade virtual que assim aparece, ou não fossemos todos espelhos uns dos outros. Tão diferentes porque iguais.

A partir de fevereiro de 2025, retratos de todos estes amigos podem ir sendo encontrados em diferentes locais da Vila.

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